PARNASO DE ALÉM-TÚMULO

Espírito: Diversos
Livro - 001 / Ano - 1932 / Editora - FEB

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Parnaso de Além-Túmulo foi o primeiro livro psicografado por Francisco Cândido Xavier e lançado em 1932.
Parnaso, que significa antologia, coletânea de poesias, trouxe na sua primeira edição um conjunto de 60 poemas atribuídos a 14 poetas brasileiros - Augusto dos Anjos, Auta de Souza, Bittencourt Sampaio, Casimiro de Abreu, Casimiro Cunha, Castro Alves, Cruz e Sousa, Pedro de Alcântara e Sousa Caldas -; quatro portugueses - Antero de Quental, Guerra Junqueiro, João de Deus e Júlio Diniz - e um poeta anônimo denominado "Um desconhecido".

A cada edição, porém, o livro foi incorporando novas composições e novos poetas, até que em sua 6ª edição em 1955, estabilizou-se com 259 poemas atribuídos a 56 autores que se manifestaram através do médium, com suas características e estilos próprios, alguns inconfundíveis.
Foi grande o rebuliço causado na época. Uns lançavam palpites de que Chico era leitor compulsivo, dono de memória prodigiosa, que incorporava o estilo dos poetas inconscientemente. Outros o tratavam por esquizofrênico e, alguns mais ferinos, defendiam que o livro era uma jogada de marketing da parte de Chico Xavier para chamar a atenção. Há, porém, um detalhe: quando o livro foi lançado, o médium tinha 21 anos, apenas a 4ª série primária e não demonstrava dotes intelectuais necessários.

Chico Xavier, além de afirmar que a autoria dos poemas não lhe pertencia, reverteu todos os direitos autorais para a Federação Espírita Brasileira. Repetia sempre que a obra era lavra dos espíritos. Em trecho escrito na introdução do livro, Chico descreveu seu "ambiente sobrecarregado de trabalho para angariar o pão quotidiano, onde não se pode pensar em letras" e que nunca teve intenção de fazer nome. Afirmava também que nunca pôde aprender senão alguns rudimentos de aritmética, história e vernáculo.

O escritor Humberto de Campos, em artigo publicado no Jornal Diário Carioca, edição do dia 10 de Julho de 1932, identificou nos versos psicografados por Chico, o estilo frouxo e ingênuo de Casimiro Cunha, largo e sonoro de Castro Alves, filosófico e profundo de Augusto dos Anjos. No parágrafo final do artigo, Humberto desafiou os rivais do outro mundo: "Venham fazer concorrência em cima da terra, com o arroz e o feijão pela hora da vida. Do contrário não vale". Dois anos depois, desencarnou. A segunda edição do Parnaso de Além-Túmulo exibia na introdução um artigo com sua assinatura, acompanhada de uma ressalva entre parênteses: espírito. Na certa, já não achava que seria uma desleal concorrência entre vivos e mortos.

Fonte: www.oconsolador.com.br

Abel Gomes - Escritor, poeta e professor, nascido em Minas Gerais a 30 de dezembro de 1877 e falecido a 16 de agosto de 1934. Espírito dinâmico, posto que fisicamente inválido, deixou alguns livros inéditos, dos quais dois já editados pela Federação, além de copiosa obra esparsa.

Na primeira poesia de Parnaso, do autor espiritual Abel Gomes, notamos o cuidado de se ter iniciando os trabalhos o nome de Jesus, o modelo e guia da humanidade.
Expressa em suas singelas linhas a consoladora mensagem de que, mesmos nos piores momentos, onde todas as aflições culminam em minar nossa resistência e fé, existe um porto seguro a nos escorar. Mesmo que o nosso mundo esteja em conflitos, mesmo que a tirania pareça triunfar, insiste em que sigamos em frente, sem medo, trabalhando na conquista íntima e colaborando para o equilíbrio e a paz.
Quantas vezes nos encontramos em momentos turbulentos, desalentadores e cruéis. Quantas vezes perguntamos a causa de tantas aflições. Insiste a mensagem de Abel Gomes que os trabalhadores de Jesus não devem esmorecer jamais, para que a paz e o amor que tanto almejam triunfem.

Temos Jesus

Desaba o Velho Mundo em treva densa
E a guerra, como lobo carniceiro,
Ameaça a verdade e humilha a crença,
Nas torturas de um novo cativeiro.

Mas vós, no turbilhão da sombra imensa,
Tendes convosco o Excelso Companheiro,
Que ama o trabalho e esquece a recompensa
No serviço do bem ao mundo inteiro.

Eis que a Terra tem crimes e tiranos,
Ambições, desvarios, desenganos,
Asperezas dos homens da caverna;

Mas vós tendes Jesus em cada dia.
Trabalhemos na dor ou na alegria,
Na conquista de luz da Vida Eterna.

Uma das principais notícias que o plano espiritual veio nos trazer é a morte da morte. De sombria e triste, uma nova perspectiva se nos abriu perante a eternidade, transformando a morte em passagem, em retorno. Não mais uma obscuridade total, mas sim o desdobrar de uma nova e radiosa realidade, com seres e paisagens exuberantes.
Apreciamos nestas singelas linhas que um novo mundo se abre após o encerramento da vida física, que ela é bela, exuberante e que nada devemos temer porque descobriremos no tempo exato que a extensão da obra do Pai é infinita e que nos guarda grandes e belas surpresas.
A morte, em todos os setores da natureza, significa renovação da vida. Em nossa realidade também se faz presente fazendo renovar as forças e perspectivas em um novo mundo que se abre após o encerramento da vida física.

 

Morte

Silenciosa madona da tristeza,
A morte abriu-me as catedrais radiosas,
Onde pairam as formas vaporosas
Do país ignorado da Beleza.

Num dilúvio de lírios e de rosas,
Filhos da luz de uma outra Natureza,
Que entornavam no espaço a sutileza
Dos incensos das naves harmoniosas!

Monja de olhar piedoso, calmo e austero,
Que traz à Terra um tênue reverbero
Da mansão das estrelas erradias...

Irmã da paz e da serenidade,
Que abriu meus olhos na imortalidade,
À esperança de todos os meus dias!

Albérico Lobo - Nascido na cidade do Rio de Janeiro em 1865 e desencarnado em fevereiro de 1942. Funcionário público, colaborou ativamente na imprensa e deixou opulenta obra esparsa, em prosa e em verso.

O autor espiritual nos fornece informações sobre a trajetória do homem: Após a luta íntima no mundo das formas, atravessa o umbral à expurgar suas sombras para encontrar o caminho de casa onde lhe aguarda a recompensa esperada. Neste novo mundo, diz adeus às ilusões e dores do passado, conservando consigo somente o que interessa ao espírito. Nos afirma a doçura da superação atingida e se banha em uma nova luz e um maior entendimento sobre  as dores que ficaram para trás. E, neste novo porto em que se encontra, roga à Jesus conceda todo reconforto aos corações amados que ainda continuam suas lutas no mundo material. O seu porto é sua nova morada onde rememora suas lutas e onde preparará as novas jornadas.

 

Do meu porto

Ao caro amigo M. Quintão

Viajor vacilante e extenuado,
Depois de atravessar a sombra imensa,
Encontrei o país abençoado
Onde vive a celeste recompensa.

 Adeus mágoas da noite estranha e densa,
Das angústias e sonhos do passado,
Não conservo senão o Amor e a Crença,
Ante o novo caminho ilimitado.

 É doce descansar após a lida,
Banhar o coração na luz da vida,
Rememorando as dores que passaram...

 E dos quadros risonhos do meu porto,
Rogo a Jesus conceda reconforto
Aos corações amados que ficaram!

Alberto de Oliveira - Fluminense, nascido em Palmital de Saquarema, em 1859, e falecido em Niterói, em 1937. Farmacêutico, dedicou-se principalmente ao Magistério. Membro fundador da Academia Brasileira de Letras, parnasiano de escol, foi tido como Príncipe dos Poetas de sua geração.

Neste mundo em que temos a oportunidade de guiar nossos passos por sendas iluminadas, muitas vezes nos perdemos no caminho e escolhas equivocadas, que tornam sombrias nossas perspectivas.
Ante o sopro da morte relembramos o passado de enganos e, com o peito opresso, pronunciamos a prece do arrependimento pelos maus passos.
O Mestre concede-nos a oportunidade de reparar os erros em novas experiências, porém levando o madeiro que nós mesmos criando, como a nos lembrar dos erros que não mais devemos cometer e do esforço reiterado para não sucumbir novamente. E, nesse horizonte crivado de dores e lágrimas, a luz do amor de Jesus ilumina todos os passos dos viajantes fatigados que corrigem seu traçado nos caminhos de luta, reparação, superação e dor.

 

Jesus

 Quanta vez, neste mundo, em rumo escuro e incerto,
O homem vive a tatear na treva em que se cria!
Em torno, tudo é vão, sobre a estrada sombria,
No pavor de esperar a angústia que vem perto!...

 Entre as vascas da morte, o peito exangue e aberto,
Desgraçado viajor rebelado ao seu guia,
Desespera, soluça, anseia e balbucia
A suprema oração da dor do seu deserto.

Nessa grande amargura, a alma pobre, entre escombros,
Sente o Mestre do Amor que lhe mostra nos ombros
A grandeza da cruz que ilumina e socorre;

 Do mundo é a escuridão, que sepulta a quimera...
E no escuro bulcão só Jesus persevera,
Como a luz imortal do amor que nunca morre.

Ensina-nos o autor que devemos ser solícitos sempre aos dois lados, compreender em todos os ângulos a complexidade da vida, ser versátil e constante, independente da situação. Incita-nos a difundir a paz e o perdão em todos os lugares. Em todos os momentos o dever de ajudar e de levar a alegria consoladora e a luz do bem.
Aconselha-nos a não revidar, a fugir da vingança e das misérias. Instrui-nos à esperança e convida-nos a ser a luz do mundo.
Estas linhas tão belas e doces são a bússola que nos aponta o caminho seguro da fraternidade, do amor e da esperança que devemos cultivar em todos os momentos de nossa vida.

 

Ajuda e passa

Estende a mão fraterna ao que ri e ao que chora:
O palácio e a choupana, o ninho e a sepultura,
Tudo o que vibra espera a luz que resplendora,
Na eterna lei de amor que consagra a criatura.

 Planta a bênção da paz, como raios de aurora,
Nas trevas do ladrão, na dor da alma perjura;
Irradia o perdão e atende, mundo afora,
Onde clame a revolta e onde exista a amargura.

 Agora, hoje e amanhã, compreende, ajuda e passa;
Esclarece a alegria e consola a desgraça,
Guarda o anseio do bem que é lume peregrino...

 Não troques mal por mal, foge à sombra e à vingança,
Não te aflija a miséria, arrima-te à esperança.
Seja a bênção de amor a luz do teu destino.

O homem, no limiar da morte física, se enche de pavor mediante o fim que se acerca. Vê seu mundo de ilusões ruir não tendo mais como recorrer diante da fatalidade.
Assevera-nos o autor que somente aqueles que mantiveram Jesus no coração e procederam na vida física condignamente sofrerão a passagem brandamente.
Concita-nos a fugir de tudo aquilo que nos prende às paixões deste mundo, pois é apenas ilusão e superficialidade. Somente Jesus é o farol que nos ilumina e todo universo. Viver os ensinamentos cristãos é a rota segura para um retorno natural e ameno à verdadeira vida do espírito.

 

Do último dia

 O homem, no último dia, abatido em seu horto,
Sente o extremo pavor que a morte lhe revela;
Seu coração é um mar que se apruma e encapela,
No pungente estertor do peito quase morto.

 Tudo o que era vaidade, agora é desconforto.
Toda a nau da ilusão se destroça e esfacela
Sob as ondas fatais da indômita procela,
Do pobre coração, que é náufrago sem porto.

Somente o que venceu nesse mundo mesquinho,
Conservando Jesus por verdade e caminho,
Rompe a treva do abismo enganoso e perverso!

Onde vais, homem vão?
Cala em ti todo alarde,
Foge dessa tormenta antes que seja tarde:
Só Jesus tem nas mãos o farol do Universo.

Alfredo Nora - ALFREDO José dos Santos Nora nasceu em 18 de novembro de 1881, no município de Piraí, Estado do Rio, e desencarnou em 13 de novembro de 1948. Depois de estudar Engenharia até ao 4º ano do curso, tornou-se funcionário da Central do Brasil, aposentando-se como Agente de 1ª classe. Poeta e jornalista, colaborou em várias revistas e jornais.

Neste desabafo em forma de bilhete o autor faz alusão à pequenez e transitoriedade do nosso corpo físico, ao nosso planeta natal e o despreparo que nos acompanha no retorno ao plano espiritual onde a verdadeira vida recomeça.

Quisera o autor dizer com clareza seus desenganos, a realidade da vida, o tempo perdido e a oportunidade valiosa que se foi.

Agora, face a face com a realidade, o padecimento o acomete e pede a luz da prece para que sua luta cesse, seus padecimentos desapareçam e tudo passe.

Muitos de nós haveremos de travar contato com as mesmas realidades pós vida e sofreremos os desenganos e ilusões que fomos artífices. Restará resignar perante a grandiosidade da vida, implorar nova oportunidade de retornar às esferas físicas para novo embate na construção do nosso eu.

 

Carta ligeira

Meu Lasneau, não é bilhete,
Não é ofício, nem ata.
É o coração que desata
Meus pesares num lembrete.

1
 Lasneau amigo, esta choça,
Onde a carne, breve, passa,
Cheia de lama e fumaça,
É minúscula palhoça.

A Terra, ante o sol da Graça,
É feio talhão de roça,
Detendo por balda nossa
Descrença, guerra e cachaça.

Agora é que entendo isso,
Mas é triste a fé sem viço
Que o sepulcro impõe à pressa...

Espere sem alvoroço,
Além da prisão de osso,
A vida real começa.

2
 Oh! meu caro, se eu pudesse
Dizer tudo o que não disse,
Sem a velha esquisitice
Que inda agora me entontece!

 Entretanto, é clara a messe
Da sementeira de asnice.
Perdi tempo em maluquice
E o tempo me desconhece.

É natural que padeça
A minha pobre cabeça
Perante a Luz, face a face.

 Não me olvide em sua prece,
Desejo que a luta cesse,
Que a coisa melhore e... passe.

Alphonsus de Guimarãens - AFONSO Henrique da Costa Guimarães, poeta mineiro, natural de Ouro Preto. Nasceu aos 24 de julho de 1870 e desencarnou em 15 de julho de 1921. Magistrado, jornalista e poeta, notabilizou-se principalmente pela tonalidade mística do seu astro, qual se afirma em suas obras: Dona Mística, Septenário das Dores, Kiriale, Escada de Jacob, etc.

O autor endereça um recado aos crentes do mundo que atravessam seus caminhos de amargura. Vem a declarar que a morte física aguarda a todos, mas que um novo mundo se abre após a passagem pela sepultura. Um mundo belo, eterno, radioso. Concita-nos a enaltecer a fé, pois a cortina que separa o mundo material do espiritual se levanta para nos fortalecer a esperança de dias venturosos.
Quando se refere “às lutas da vossa esfera” nos faz lembrar que devemos travar o bom combate, não nos isenta da luta e da superação das dificuldades. Somente assim entraremos pela porta estreita no reino de luz tão sonhado.

 

Aos crentes

Ó crentes de uma outra vida,
Que andais no mundo exilados,
Nos caminhos enevoados,
Lendo o missal da amargura!

Esperai a sepultura,
Ó crentes de uma outra vida! ...

Tangei harpas de esperança,
Nas lutas de vossa esfera,
Porque a Morte é a primavera
Luminosa, eterna e imensa...

Filhos da paz e da crença
Tangei harpas de esperança!...

O autor que fizera a passagem entre os dois planos ressurge admirado com a nova realidade que o cerca, assume sua pequenez e se iguala aos que ainda se encontram no vale de lágrimas, incentivando à superação para alcançar um novo despertar.

Redivivo

Sou o cantor das místicas baladas
Que, em volutas de flores e de incenso,
Achou, no Espaço luminoso e imenso,
O perfume das hóstias consagradas.

Almas que andais gemendo nas estradas
Da amargura e da dor, eu vos pertenço,
Atravessai o nevoeiro denso
Em que viveis no mundo, amortalhadas.

Almas tristes de freiras e sórores,
Sobre quem a saudade despetala
Os seus lírios de pálidos fulgores;

 Eu ressurjo nos místicos prazeres,
De vos cantar, na sombra onde se exala
Um perfume de altar e misereres...

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